Os Serviços de Banco de Leite Humano são estruturas fundamentais de apoio à assistência à saúde e contribuem para o aumento da sobrevivência de crianças oriundas de diversas classes sociais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, e é modelo para a cooperação internacional em mais de 20 países das Américas, Europa e África, estabelecida por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC).
O modelo brasileiro é reconhecido mundialmente pelo desenvolvimento tecnológico inédito, que alia baixo custo à alta qualidade, além de distribuir o leite humano conforme as necessidades específicas de cada bebê, aumentando a eficácia da iniciativa para a redução da mortalidade neonatal.
Com a pandemia do novo Coronavírus (SARS-CoV-2), a coleta domiciliar de leite materno sofreu uma queda de 35% em todo o país. O Ministério da Saúde esclarece que até o momento não há evidências científicas que comprove a transmissão do coronavírus por meio da amamentação.
Apesar do momento de grande tensão à saúde pública, são necessárias medidas rigorosas de segurança para o manejo do leite humano, evitando assim que fatores externos possam contribuir prejudicar a segurança do processamento de todo o ciclo do leite humano.
A seguir medidas que podem contribuir para a segurança deste processo.
Medidas de Controle do Ambiente Assistencial nos Serviços de Coleta e Manejo de Leite Humano
- Equipamentos de uso compartilhado entre as pessoas (por exemplo, de bombas extratoras) devem ser limpos e desinfetadas após o uso;
- Higienizar adequadamente as mãos, respeitando seus cinco momentos conforme indicado pela Organização Mundial de Saúde;
- Aplicar as precauções padrão ou adicionais conforme suspeita ou confirmação diagnóstica;
- Realizar a ordenha de leite humano em local privativo, evitando o procedimento em salas coletivas, sempre que possível;
- Estabelecer medidas de higiene dos locais de contato coletivos como geladeiras de leite cru e assentos destinados à ordenha ou amamentação;
- Fornecer máscara cirúrgica à pessoa com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, ou pessoa que tem ou teve contato com o caso suspeito ou confirmado;
- Descartar adequadamente os resíduos, segundo o regulamento técnico para gerenciamento de resíduos de serviços de saúde da Anvisa.
Medidas de Segurança para a Amamentação de Mulheres com Suspeita ou Casos Confirmados de COVID-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta a manutenção da amamentação, uma vez que até o momento não temos qualquer comprovação de que o leite materno possa transmitir o novo coronavírus. O Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Dapes/Saps) do Ministério da Saúde, em parceria com outras entidades elaborou uma nota técnica, a qual faz recomendações para a amamentação em eventuais contextos de transmissão de síndromes gripais.
Assim, considerando os benefícios da amamentação para a saúde da criança e da mulher, e a ausência de evidências científicas sobre a transmissibilidade do vírus por meio da amamentação, não existe qualquer recomendação para a suspensão do aleitamento materno.
Caso a mulher sinta-se insegura em amamentar nos casos confirmados de COVID-19, ela pode realizar a ordenha de seu leite e ofertar à criança. São recomendações para a lactante, pensando no risco de transmissibilidade a criança:
- Lavar as mãos antes de tocar o bebê ou antes de retirar o leite materno (extração manual ou na bomba extratora);
- Usar máscara facial (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação (A máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro, e a cada mamada);
- Seguir rigorosamente as recomendações para limpeza das bombas de extração de leite após cada uso;
- Deve-se considerar a possibilidade de solicitar a ajuda de alguém que esteja saudável para oferecer o leite materno ao bebê;
- É necessário que a pessoa que oferecer o leite materno ao bebê aprenda a fazer isso com a ajuda de um profissional de saúde.
Coleta de Leite Humano em Ambiente Hospitalar e Extra-Hospitalar
A coleta de leite humano em ambiente hospitalar deve ser realizada, sempre que possível, sob supervisão de profissional da saúde, respeitando questões de higiene e fornecendo orientações básicas como de costume. É necessário que a sala de ordenha seja preparada para o menor manejo possível de utensílio no ambiente e possua condições de oferecer máscara cirúrgica e touca descartável para a realização da ordenha. Caso seja necessário o uso de extratoras mecânicas, a limpeza do equipamento requer cuidados especiais para sua desinfecção, conforme normas institucionais.
Para a coleta de leite humano extra-hospitalar as regras de segurança permanecem as mesmas, desde que a mulher ou familiar morador da mesma residência não apresentem sintomas respiratórios.
Segurança no Armazenamento e Transporte do Leite Humano
O processo de armazenamento e transporte do leite humano devem respeitar primeiramente às legislações vigentes e devem ser realizados por estrutura exclusivamente destinada para esta finalidade. As precauções para prevenir a contaminação do leite devem ser reforçadas com as seguintes ações:
- Higienizar as mão sempre que for tocar o ambiente, o recipiente estéril ou desinfetado e a bomba de extração;
- Manter o leite humano armazenado em até 5 graus e administrar em até 12 horas (Nos casos de amostras congeladas manter em até -3 graus e administrar em até 15 dias).
Todas as medidas expostas foram baseadas nas evidências disponíveis no momento e poderão ser alteradas diante de novas evidências. Recomenda-se que estratégias adicionais estejam baseadas nas informações epidemiológicas periodicamente divulgadas pelas autoridades federal, estadual ou municipal.
REFERÊNCIAS
- Martins, A. Medo do coronavírus provoca queda na doação de leite materno. Secretaria da Saúde do Distrito Federal, 31 de março de 2020. Disponível em:http://www.saude.df.gov.br/
- medo-do-coronavirus-provoca-queda-na-doacao-de-leite-materno. Acesso em 04 de abril de 2020.
- Ministério da Saúde (MS). Bases para discussão da política nacional de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2017.
- Ministério da Saúde. Doação de leite: o que é aleitamento materno, importância, como doar. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doacao-de-leite. Acesso em 04 de abril de 2020.
- Palmeira P, Costa-Carvalho BT, Arslanian C, Pontes GN, Nagao AT, Carneiro-Sampaio MM. Transfer of antibodies across the placenta and in breast milk from mothers on intravenous immunoglobulin. Pediatr Allergy Immunol 2009; 20(6):528-35.
- Victora CG , Bahl R, Ramos AJD, França GVA, Horton S, Krasevek J, Murch S, Sankar MJ, Walker N, Rollins NC. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet 2016; 387(10017):475-90.
- Sociedade Brasileira de Pediatria – nota de alerta – O aleitamento materno nos tempos de COVID-19. Março de 2020.
